25.10.10

mãe.

Eu estava no meu quarto, fazendo o exaustivo dever de física, quando a ouvi. Parecia um som celestial, uma melodia que me fez sentir sono. A sua voz era como um sino suave, que me contagiava a dançar. Parecia mais uma canção de ninar, e não consegui terminar de resolver aquela atividade: eu precisava chegar mais perto, daquele mágico som. Trancada no meu quarto, às 9:16 da noite, eu encostei na porta. Chorei, e chorei. Foi aí que lembrei de onde eu conhecia o som: era a voz da minha mãe me colocando para dormir, quando eu ainda era um bebê. Hoje, ela estava fazendo isso com meu irmão mais novo, e ele dormiu, sem saber que aquela voz marcaria sua vida pra sempre, como marcou a minha. Por mais que estejamos brigadas hoje (e como sempre, eu estou com a razão, já que não é certo deixar uma adolescente em plena puberdade de castigo por causa de míseras notas baixas no boletim), eu me senti a 16 anos atrás, dentro de uma barriga. É estranho pensar, mas ela já me amava, imensa e incondicionalmente. Cresci, já fiquei com raiva, a aborreci, aprontei de todas, e mesmo assim, aquele ser constituído de amor, continuou me amando. Como entender? Talvez, quando eu for mãe, eu vou ser como ela foi a todo tempo pra mim. E mesmo sendo a melhor mão do mundo, aquela mulher que está no quarto ao lado, tem a coragem de me pedir perdão por não ser uma boa mãe. Realmente, boa ela não é, porque perfeição não se restringe a isso. Eu sei que as vezes ela parece uma maluca, escandalosa, ela grita e parece uma vuvuzela,, não sabe nem dar um abraço; e é tudo isso que a faz brilhantemente especial pra mim. Alguém que me carregou por 8 meses numa barriga, me tolerou por tanto tempo e continua tolerando. E eu só reconheci isso agora. Ela a tanto tempo quis me fazer chorar, tentando me disciplinar. Claro que não conseguia, eu sempre fui Lillyan, e sempre achei que chorar era para os fracos. Tanto esforço para nada, ela só precisou sentar em sua cama e cantarolar as melodias que cantarolava quando eu era menor. Eis que estou aqui, chorando e tentando entender porquê não escrevi sobre ela e seu amor antes! Tanto que ela me falou o quanto me amava, e eu deixando os momentos passarem. Pois bem, nunca me declarei pra ela. Eu a amo, com meu coração, com minha vida, com meus sentimentos, e com esse amor que Deus me deu. Tenho certeza que ele está feliz agora, porque a sua pequena reconheceu quanto amor materno não tinha reparado receber. E agora estou aqui, enchendo lágrimas num balde, querendo enfiar a caneta nesse papel e sair gritando por esse bairro, que fui presenteada com a mulher mais perfeita que existe, essa minha mãe, essa minha vida, esse meu amor.

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