29.7.10

A coméia .


Eu estava no meu quintal, pensando sobre os males da vida moderna, quando reparei uma coméia de abelhas, no alto do telhado. No momento, fiquei com medo de que alguma se sentisse ameaçada, e me pus a observar. Levantei, e fui para mais perto. Comecei a lembrar do que eu tinha aprendido no primário, sobre a abelha-rainha, as operárias e sua organização. Reparei que a coméia é como nossa sociedade: cheia de regras, com gente que manda na gente. Não resisti, e minha infinita curiosidade me fez tocar na coméia. Foi aí que senti dor e percebi que tinha ido longe demais nas minhas observações: uma delas me picou. Logo depois, ela morreu e seu ferrão ainda estava no meu dedo. Toda vez que a abelha pica alguém e perde seu ferrão, ela morre. Ou seja, o objetivo de vida dela foi cumprido, ela morreu para defender a coméia. Decidi associar: por que morremos então? Por que nosso objetivo foi cumprido? Quantos de nós morreríamos por outras pessoas? Provavelmente quase ninguém. Essa é uma sociedade egoísta e masoquista, onde ninguém morre por alguém, onde as pessoas vivem por viver, vivem para ganhar riquezas e não dividir com alguém, porque quanto mais, melhor, e você vale o que tem. Não, nós não podemos nos comparar com as coméias, porque o objetivo das abelhas é o de produzir muito mel e arranjar mais comida para suas próximas gerações. As pessoas? Matam por centavos, agridem uns aos outros, e a cada dia ensinam para as crianças que aquele que pensa nos outros, não “subirá na vida”. Geração? Quem se importa com ela? O lema os homens é viver o aqui e o agora, é viver com dinheiro e status, é viver de aparência, cheio de embalagem e nenhum conteúdo. Tenho peso pelas próximas gerações. Tenho peso pelas crianças que hoje entendem mais de drogas e armas que os próprios adultos. Tenho peso pelos adultos que acham que enganam as crianças. Eis aí a próxima geração de abelhas! A geração triste e cheia de paradoxos, que irá repassar de uma para a outra o legado da miséria, vindo daqueles primeiros homens, que nem sequer ousaram pensar como abelhas. Ontem, eu não sabia o que esperar de hoje. Hoje, eu não sei o que esperar de amanhã. Só desejo que as abelhas nunca tentem ser como nós. Desejo também, que daqui a muitos anos, alguém que tenha o poder de mudar a história da sociedade, sente no seu quintal, pensando sobre os males da vida moderna, olhe para o alto, observe uma coméia de abelhas e faça alguma coisa para tornar o máximo de pessoas possíveis iguais a elas.

2 comentários:

  1. Infelizmente, Lilly, esse é o mundo onde vivemos, pisando uns nos outros sem ao menos nos dar conta disso. Seria muito bom se fóssemos capazes de viver em pról do outro, e sem querer nada em troca, ou apenas gratidão. Mas agimos fazendo exatamente o contrário. Trancados em casa com medo que o outro possa nos fazer algum mal ou nos levar algo material muito valioso...Na ânsia de guardar e esconder acabanos nos distanciando cada vez mais de nosso semelhante e muitas vezes de nós mesmo...

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  2. é verdade, e poucas pessoas tentam pensar assim. ainda bem que há concordância, porque a sociedade precisa de pessoas que pensem diferente do que é "normal". valeu roger ;]

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