meu sonho, mais um jardim.

Era só um dia normal. Muito ensaio para a gincana do colégio, mas como sempre, meus dias não continuam normais. A algum tempo, minha mãe resolveu criar um jardim ao lado da casa. Achei uma ideia um pouco selvagem, já que eu teria que dividir meu lar com formigas e caracóis. Exclusivamente hoje, eu fui ver o jardim. Confesso que não tive motivo nenhum, simplesmente subiu uma vontade de olhar para o verde. Chegando lá, uma tontura dominou meu corpo, e eu sentei na grama. Do nada, me veio um nó na garganta, e comecei a lembrar de tudo o que tinha feito de errado na vida. Ah, como eu queria que aquela roseira fosse como uma máquina do tempo, em que eu tivesse a oportunidade de recomeçar tudo outra vez. Logo depois, pensei em todos os sonhos e planos que fiz pra minha vida, e que nunca se cumpriram. O sonho de fugir de casa e atravessar o mundo, o sonho de bater no Mickey que fica dando tchauzinho na Disney, o sonho de que todos gostassem de mim, pra que eu não tivesse que olhar torto pra alguém [...] Hoje eu tenho 16 anos, e só sei que alguns sonhos, talvez impossíveis, morreram. O tempo passa, e as fantasias também morrem. Naquele verde da grama, eu me deliciei lembrando da minha infância, e de como eu sonhava com o mundo, de como eu via o mundo. Eu descobri que a medida que crescemos, a nossa visão aumenta. Não, isso não é bom. Enxergar o mundo e a sociedade como ela é, não é bom. Eu me assusto em saber que a mesma mão que te dar carinho, é aquela que pode te bater. Valer a pena? Não existe no vocabulário de um mundo desigual. E eu não julgo ninguém, eu falo por mim, porque se eu pensasse no mundo como uma criança, eu não teria raiva dele. Aliás, se todos nós pudermos viver transformando nossos sonhos em realidade, o mundo seria bem melhor. Eu chorei naquela tarde. Eu deitei naquela grama, e eu suava, chorava, tremia meu corpo, numa angustia que não tinha começo nem fim. Se eu tivesse 10 anos, gritaria por minha mãe. Mas 6 anos se passaram, e nem ela acharia isso normal. Bendito tempo! Eu me contorci, eu queria sair daquele pesadelo, de tanto lembrar das dores, das decepções, do começo de tudo, do fim de tudo. Não vou mentir: eu achei que estava morrendo, e que minha vida estava passando na minha cabeça, pra que eu fosse julgada pelos meus atos. E então, onde iria depois de morta? E onde iria depois de causar tantas dores nas pessoas que amei, tantas dores em mim, por causa da minha frieza, do meu orgulho, do meu desejo de vingança? Percebi que eu não presto. Você pode estar rindo e se julgando melhor, mas garanto que cada um é pior que os outros, e Deus só permite decepções e erros, pra que nós tenhamos a certeza de que sempre precisamos dele. Eu sabia, principalmente naquele momento, que eu precisava de Deus. Eu queria segurar a grama, e voltar pra minha infância. Eu não podia, eu tive minha oportunidade. Aquele sentimento me torturou, e a dor foi tanta, que me levantei em um só pulo, procurando refúgio. Percebi que estava na minha cama, às 3:56 da manhã, suada e tensa. Foi tudo um sonho, não passou de um sonho. E mais uma vez, eu aprendi. Aprendi que não importa a idade, podemos ter sonhos. Sonhos que mudarão nossas vidas, e não nossa visão a cerca do mundo. E mudarão nossas vidas, porque esse mudou a minha. E não importa qual seja a minha idade, eu não vou me cansar de sonhar. Sonhar com meus erros, minhas falhas, meus acertos, essa vida de sonhos. Agradeço a Deus, porque sei que ele me ensinou a depender dele. Vou continuar sendo um nada, mas meus erros não serão um nada. Eles servirão para transformar a outra parte da minha vida, num sonho angustiante, em que a aventura de uma noite inteira, seja feita deitada na grama.